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Saúde

Estudo UFMG: cobertura de realização do exame de mamografia cai em Belo Horizonte

Por: Assessoria de Imprensa UFMG

Um estudo publicado no BMC Women’s Health Journal, coordenado pelas professoras Alanna Gomes da Silva e Deborah Carvalho Malta, do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, demonstrou uma queda na cobertura da realização do exame de mamografia em Belo Horizonte durante o período de 2007 a 2023. Em 2012, a cobertura na capital mineira foi de 86,5% e sofreu uma queda expressiva ao longo da última década, atingindo apenas 70% entre 2021 e 2022 — o menor índice do período analisado. Em 2023, houve sinal de recuperação, com a cobertura voltando a 80,3%, mas ainda longe dos níveis ideais registrados no passado.

Segundo a professora Alanna, o estudo teve o objetivo de analisar as tendências temporais nas taxas de realização dos exames de mamografia de mulheres residentes nas capitais brasileiras entre 2007 e 2023, comparando a cobertura dos períodos antes e depois da pandemia de Covid-19.

Para a análise foram utilizados dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), um inquérito telefônico que monitora anualmente a situação de saúde da população brasileira, por meio da distribuição dos principais fatores de risco e proteção para as doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). A amostra do Vigitel compreende no mínimo 2 mil entrevistas em cada cidade com dados de mulheres de 50 a 69 anos que realizaram exame de mamografia nos últimos dois anos. As variáveis utilizadas foram: escolaridade (0 a 8; 9 a 11; e maior ou igual a 12 anos), faixas etárias (para mamografia 50 a 54, 55 a 64 e 65 a 69); raça/cor da pele (branca, preta e parda); região (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste); e localização geográfica (26 capitais brasileiras e o Distrito Federal).

Os resultados da pesquisa mostraram uma estabilidade nas capitais do Brasil, para o total de mulheres de 50 a 69 anos: 71.1% fizeram o exame de mamografia em 2007 e 73.1% em 2023, mantendo o índice estável também para todas as variáveis analisadas.

Nas demais capitais do Sudeste, a tendência da cobertura de mamografia se manteve estável entre 2007 e 2023. Na cidade do Rio de Janeiro, a cobertura do exame variou de 63,1% em 2007 para 66,6% em 2023. Apesar de pequenas oscilações ao longo dos anos – com destaque para os picos observados em 2018 (77,5%) e 2019 (76%), os dados indicam que a cobertura não apresentou crescimento consistente ao longo da série histórica. Em São Paulo, a cobertura foi de 74,3% em 2007 para 76,9% em 2023 . O melhor resultado do período foi registrado em 2018, com 82,1%, mas, assim como nas demais capitais, a tendência geral foi de estabilidade. Vitória, no Espírito Santo, apresentou os maiores índices de cobertura mamográfica da região durante todo o período analisado, variando entre 85,4% (2007) e 90,7% (2016). Ainda assim, a análise estatística não demonstrou tendência de aumento, com a cobertura de 82,4% em 2023.

A professora Alanna pontua que, embora a estabilidade não represente necessariamente um retrocesso, ela evidencia que ainda há espaço para melhorar a busca ativa, reduzir desigualdades no acesso e alcançar mulheres que permanecem fora do rastreamento.

Enquanto as capitais do Sudeste apresentaram estabilidade na cobertura de mamografia ao longo dos últimos 16 anos, algumas cidades de outras regiões do país registraram crescimento constante no período. Em Belém, por exemplo, a cobertura aumentou em média 1,19% ao ano, enquanto em Macapá o crescimento anual foi de 1,37%. Em Natal, a elevação média anual foi de 0,72%, e em Palmas, o avanço chegou a 2,03% por ano, o maior entre as capitais. Também houve aumento médio de 1,43% ao ano em Rio Branco e de 0,42% em São Luís. Esses avanços sugerem esforços bem-sucedidos de expansão do rastreamento e maior alcance das políticas públicas voltadas à detecção precoce do câncer de mama.

Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) de 2023 mostram que o câncer de mama feminino é o mais incidente em todas as regiões brasileiras (sem considerar os tumores de pele não melanoma). Com as medidas de distanciamento social instauradas em 2020, durante a pandemia de covid-19, os atendimentos para rastreio do câncer de mama foram suspensos, sendo retomados de forma gradual. Desde setembro de 2025, como medida para ampliar a detecção do câncer de mama, o Ministério da Saúde passou a recomendar a mamografia para mulheres com idade de 40 a 49 anos, indicada de forma individualizada; de 50 a 74 anos (antes era até 69 anos) permanece a recomendação do rastreamento a cada dois anos, mesmo sem sinais ou sintomas; e acima de 74 anos a indicação deve levar em conta fatores como expectativa de vida e comorbidades.

Ao comparar a cobertura da realização da mamografia antes e durante a pandemia de covid-19, o resultado foi de 76,9% em 2019 para 73,1% em 2023, uma redução de 3,8 pontos percentuais. Alanna explica que a tendência geral continua sendo de queda significativa, evidenciando a necessidade de reforço nas políticas de rastreamento e prevenção do câncer de mama. “Esse resultado indica que a proporção de mulheres que realizaram o exame apresentou redução média anual significativa, evidenciando um retrocesso nas ações de rastreamento mamográfico e apontando para a necessidade de intensificar as estratégias de promoção da saúde, educação e identificação precoce de casos na Atenção Primária à Saúde (APS), além de garantir o encaminhamento oportuno para a realização do exame”, destaca Alanna.

Ainda de acordo com a professora, para que os programas de rastreamento sejam efetivos, não basta alcançar altas coberturas: é fundamental garantir a continuidade das etapas diagnósticas e terapêuticas e a qualidade dos exames, assegurando a detecção precoce de alterações mamárias e lesões precursoras. “Nesse contexto, a conscientização da população e dos profissionais de saúde sobre sinais e sintomas de alerta permanece essencial. Além disso, o monitoramento contínuo dos indicadores é indispensável para acompanhar tendências, avaliar o impacto das estratégias implementadas e orientar decisões em saúde, sobretudo no período pós-pandemia, quando muitas ações preventivas foram interrompidas e há necessidade de reorganizar e fortalecer a APS como porta de entrada e coordenadora do cuidado.

Prevenção do câncer de mama

A mamografia pode ser realizada através do Sistema Único de Saúde (SUS), que garante o acesso universal e gratuito aos exames. Após a avaliação clínica e consulta por médicos ou enfermeiros, é realizado o encaminhamento para realizar a mamografia em serviços especializados.

“A incidência e a morbimortalidade do câncer de mama podem ser reduzidas com estratégias efetivas de controle, como: prevenção primária, rastreamento, ações de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento, reabilitação e de cuidados paliativos, quando necessário”, ressalta a professora.

Fonte

Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem da UFMG

comunicacao@enf.ufmg.br

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