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Pesquisa e Inovação

Artigo de pesquisadores da UFMG e USP explora como os animais avaliam riscos e benefícios em conflitos

Por: Assessoria de Imprensa UFMG

Como os animais decidem quando lutar e quando se afastar, voar, deslizar ou nadar? A maioria das pesquisas sobre conflitos animais tem se concentrado nos custos de curto prazo de interações únicas, mas um par de ecologistas comportamentais da UFMG e da USP argumenta que esses eventos pontuais podem pintar um quadro incompleto. No artigo What we (don’t) know about costs in animal contests, publicado em 16 de julho na revista Trends in Ecology & Evolution, os pesquisadores afirmam que, para realmente entender as consequências do conflito animal, precisamos também considerar seu impacto a longo prazo e cumulativo na longevidade e reprodução de um indivíduo.

“Ligando os concursos individuais ao sucesso reprodutivo ao longo da vida, podemos entender como diferentes contextos e situações ambientais poderiam favorecer a evolução de estratégias de decisão em diferentes espécies”, diz o autor e ecologista Paulo Enrique Cardoso Peixoto, docente do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.

Os concursos são ubíquos em todo o reino animal, observam os autores. Em muitos casos, essas lutas são simbólicas e podem ou não envolver contato físico, mas podem esgotar reservas de energia e, em alguns casos, resultar em ferimentos físicos e morte. Normalmente, os animais se envolvem em concursos quando competem por um recurso, como alimento, abrigo, território ou parceiros para acasalamento. Como os concursos têm o potencial de resultar em benefícios e custos, os cientistas há muito pensam que diferentes espécies devem ter evoluído estratégias para decidir se devem lutar e, se lutarem, quando desistir.

Os pesquisadores afirmam que a estratégia de conflito ideal variaria dependendo da espécie e da situação. Por exemplo, os benefícios potenciais podem superar os riscos para recursos muito valiosos, mas para recursos menos importantes, os indivíduos podem se sair melhor abstendo-se, especialmente se forem improváveis de vencer. Eles também observam que alguns custos têm mais peso do que outros.

“Se camarões-pistola perdem uma pinça durante uma luta, ela pode regenerar, então não é uma perda total porque eles podem se recuperar e lutar em concursos subsequentes”, diz Peixoto. “Mas, se um besouro quebra um chifre durante uma luta, ele não irá regenerar, então aquele indivíduo não poderá lutar novamente, e como eles costumam lutar pelo acesso a fêmeas, isso significa que não poderão mais se reproduzir.”

Para examinar como os custos foram caracterizados e quantificados anteriormente, os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática de estudos de campo e de laboratório. De 73 artigos abrangendo 62 espécies animais, eles identificaram 24 tipos diferentes de custo, que agruparam em seis categorias: aumento do metabolismo, aumento do estresse e diminuição da resposta imunológica, aumento do risco de lesão e mortalidade, diminuição das oportunidades de forrageamento, diminuição da consciência de predadores e diminuição do investimento em cuidados parentais.

Eles descobriram que pesquisadores que estudam diferentes tipos de animais tendem a medir diferentes tipos de custo, o que torna difícil comparar os resultados. Por exemplo, estudos em crustáceos e peixes eram mais propensos a medir custos metabólicos, enquanto estudos em insetos geralmente mediam lesões diretas.

“Há uma enorme variação nas medições que os pesquisadores fazem”, diz Peixoto. “A variação não é uma coisa ruim, mas a falta de padronização na forma como fazemos isso impede que estimemos se há um custo médio entre diferentes espécies ou investiguemos a variação entre elas.”

Custos e sucesso reprodutivo em conflitos animais

Em muitos casos, os pesquisadores argumentam que os custos medidos não são os mais relevantes para entender as consequências dos concursos. Eles também raramente se estendem além da medição das consequências de curto prazo de incidentes isolados.

“Precisamos ligar o custo médio em um único concurso à longevidade ou sucesso reprodutivo ao longo da vida do indivíduo”, diz Peixoto. “Por exemplo, existem contextos que favorecem indivíduos que sempre lutam e são mais agressivos, e outras situações que favorecem indivíduos mais cautelosos que só lutam contra rivais mais fracos para aumentar suas chances de vitória?”

Para ligar os custos de curto e longo prazo, os pesquisadores propõem um processo em três etapas, começando pela identificação do custo mais importante para a espécie que estão estudando. O próximo passo é medir como esse custo se acumula durante um único concurso, em relação à linha de base do animal. Finalmente, a equipe recomenda ligar esses dados de um único concurso a dados de longo prazo sobre com que frequência diferentes indivíduos lutam e quantos filhotes lutadores frequentes e não frequentes produzem.

“Sabendo o número médio de lutas em que diferentes indivíduos estão envolvidos e suas expectativas de vida, podemos estimar se indivíduos que lutam mais ou menos têm melhor sucesso reprodutivo ao longo da vida”, diz Peixoto. “Essa conexão nos permitiria obter insights mais profundos sobre a dinâmica evolutiva dos concursos animais e os trade-offs que os indivíduos enfrentam.”

Esta pesquisa foi apoiada por financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Fonte

Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG

comunica@icb.ufmg.br

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