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Pesquisa e Inovação

Pesquisa da UFMG analisa perspectiva de cuidadores familiares de idosos frágeis em cuidados paliativos

Por: Assessoria de Imprensa UFMG

Uma pesquisa conduzida no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFMG se voltou para os discursos de cuidadores familiares inseridos no programa Matrix 10, desenvolvido em 2021 como suporte matricial à atenção primária no SUS, acerca do processo de acompanhamento pós-alta ambulatorial dos idosos frágeis em cuidados paliativos no domicílio. O estudo mostra que as estratégias observadas dentro do programa não apenas fortalecem o letramento em saúde e a autonomia dos cuidadores, como também reduzem hospitalizações desnecessárias.

O Ministério da Saúde lançou, em 2024, a Política Nacional de Cuidados Paliativos e a Política Nacional de Cuidados, com o intuito de garantir uma assistência mais humanizada no Sistema Único de Saúde (SUS), disponibilidade e qualidade da prestação do cuidado. A Política Nacional de Cuidados Paliativos estabelece a criação de equipes multiprofissionais para apoiar as práticas de cuidados paliativos às equipes em todos os níveis da rede de atenção à saúde, a promoção de informação qualificada, educação em cuidados paliativos e a garantia do acesso a medicamentos e insumos necessários a quem está em cuidados paliativos. Por outro lado, a Política Nacional de Cuidados visa à reorganização da provisão de cuidados no país, corresponsabilizando famílias, estado, mercado, empresas e comunidades, e preconiza o compartilhamento das responsabilidades de cuidado entre homens e mulheres.

Anteriormente a essa regulamentação, o Instituto Jenny Andrade de Faria, do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG/Ebserh, já contava com um projeto de matriciamento, Matrix 10, criado em 2021. Esse programa de apoio matricial (AM), inovador para idosos frágeis, visa garantir o monitoramento à distância de idosos em cuidados paliativos que receberam alta do Ambulatório de Geriatria do HC. Carolina Sales Galdino, autora da pesquisa, participa do programa Matrix desde a sua criação, anteriormente como residente em enfermagem e, atualmente, como pesquisadora.

Ela explica que o matriciamento ou apoio matricial é uma estratégia de gestão da atenção à saúde, no contexto da Rede de Atenção à Saúde (RAS), no SUS, que tem o objetivo de fortalecer a atenção básica e superar a lógica de saberes fragmentados. “Por meio do AM é assegurada retaguarda especializada às equipes de referência na gestão de casos complexos, em que o profissional especialista do apoio matricial na atenção secundária oferece apoio em sua área de expertise para outros profissionais das equipes de referência na Estratégia de Saúde da Família”.

A amostra da pesquisa realizada por Carolina Galdino, sob a orientação da professora Isabela Silva Câncio Velloso, foi composta exclusivamente por mulheres, mesmo que o gênero não fosse um critério de inclusão. “Tornar-se cuidadora familiar é destino que geralmente as mulheres não escolhem, mas se tornam e sustentam diante das expectativas da sociedade sobre elas”, enfatiza.

Carolina Galdino ressalta que a pesquisa permitiu compreender que as estratégias do programa de apoio matricial em educação em saúde e o telemonitoramento possibilitaram o letramento em saúde das cuidadoras familiares. “Também promoveram a compreensão das orientações de saúde do ser cuidado, a segurança nas tomadas de decisão sobre o que fazer e quando fazer e a autonomia para gerir o cuidado no domicílio”. Além disso, de acordo com a pesquisadora, o estudo também sinaliza que essas estratégias repercutem na diminuição da procura por serviços de urgência, além de minimizar o risco de hospitalizações desnecessárias e possíveis iatrogenias (efeitos adversos ou complicações causadas por ações ou tratamentos dos profissionais de saúde) e procedimentos fúteis (não trazem benefícios significativos ou podem até mesmo causar mais danos do que benefícios devido ao estado avançado de fragilidade do idoso) e desproporcionais ao quadro clínico de fragilidade.

Outro ponto que merece destaque, segundo ela, é que entre as cuidadoras que participaram do estudo, a maior parte também era idosa, com idade acima dos 60 anos. “Esse cenário de idosos cuidando de outros idosos é crescente no Brasil e no mundo, fato que está relacionado à mudança demográfica e ao envelhecimento da população”.

Quanto aos idosos cuidados, houve um predomínio de indivíduos longevos, com média de idade de 89 anos, o que se alinha com as taxas de crescimento dessa população no país. A condição clínica predominante foi a demência de Alzheimer.

Cuidado com o cuidador

A pesquisa indica uma ausência de suporte dos serviços de saúde e uma sobrecarga dos cuidadores, que têm dedicação exclusiva e ininterrupta, monitorando constantemente o idoso para garantir o bem-estar ao longo do dia. “Eu fiquei particularmente tocada por perceber, tão de perto, a falta de estrutura dos domicílios para o cuidado, a ausência de suporte dos serviços de saúde à prática de cuidado do cuidador familiar e ao cuidado de saúde dos idosos frágeis em cuidados paliativos. Essa é uma realidade muito difícil para os idosos e, principalmente, para o cuidador familiar, que se vê sozinho no gerenciamento e na oferta do cuidado”, evidencia a pesquisadora.

Carolina ressalta, ainda, que a Política Nacional de Cuidados Paliativos e a Política Nacional de Cuidados poderão subsidiar mudanças nesse cenário, mas que para isso é necessário um modelo de saúde estruturado que proporcione uma retaguarda especializada às equipes de saúde e aos cuidadores familiares.

A pesquisadora conclui destacando esta pesquisa como um ato político e afetivo. “Ao longo do estudo, assumi o papel de cuidadora familiar do meu avô em cuidados paliativos e seguir com a pesquisa após o seu falecimento foi uma forma de ressignificar o luto, transformar a dor em produção de conhecimento e ampliar a visibilidade dos cuidadores invisibilizados pela sociedade”.

PesquisaRepercussões do apoio matricial em cuidados paliativos à idosos frágeis no domicílio na perspectiva de cuidadores familiares Pesquisa Nacional de Saúde – 2019

Autora: Carolina Sales Galdino

Orientadora: Isabela Silva Cancio Velloso

Data da defesa: 20/01/2025

Fonte

Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem da UFMG

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